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Por quê doença
do século?

Escrito por:
Matheus Limede

Tempo de leitura: 15 min

Introdução


   Como muitos de nós sabemos, a depressão foi classificada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como a doença do século XXI. Isso porque, de acordo com os dados apresentados por ela, cerca de 4,4% da população mundial ja foi diagnosticada com a doença, 18% mais do que a dez anos atrás. Somente no Brasil, a taxa de pessoas atingidas é de 5,8 da população. Existe ainda, sobre as palavras desta mesma organização, a teoria de que, até 2030, a doença se torne tão comum e abundante quanto o câncer ou problemas cardíacos. Mas qual é o motivo desse crescimento de vista tão alarmante? Bem, existem diversos pontos de abordagem que podem responder a esse pergunta, mostraremos aqui neste texto quais são os principais deles.

Internet e as redes sociais


   Certamente, as redes sociais podem ser consideradas culpadas no que se refere ao aumento de diagnósticos. Sendo a geração Z - indivíduos nascidos a partir de 1995 - o grupo que mais utiliza internet, totalizando cerca 76% dos usuários apenas no Facebook. Não coincidentemente, é nesta faixa etária que se encontram os maiores números de depressão e suicídios, com cerca de 300 mil pessoas atingidas e 800 mil mortes por ano, de acordo com dados apresentados pela OPAS/OMS. 


   Mas como as redes sociais podem influenciar no ser humano ao ponto de desenvolver neste uma doença de nível tão grave? A resposta não é tão simples, mas podemos dizer que ela está no uso excessivo. Segundo pesquisas publicadas pelo Fórum Econômico Mundial, em 2019, a geração Z passa, em média, 2 horas e 55 minutos utilizando somente as redes sociais. É claro que olha assim pode parecer pouco, mas lembre-se de se trata de uma média que foi traçada considerando usuários do mundo todo. Este uso se tornou ainda mais presente desde o início durante a pandemia da COVID-19. Uma pesquisa realizada pela Kantar indica que o Facebook, Instagram e WhatsApp tiveram um crescimento de uso de 40%, esses dados foram publicados por volta de agosto de 2020, poucos meses após o início do isolamento. É certamente preocupante que a tendência destes números são de subir cada vez mais, principalmente durante este período.


   É inegável que as redes sociais auxiliaram diversos governos na divulgação dos informativos sobre o risco do vírus, mas, assim como é pontuado no documentário 'O Dilema das Redes', produzido pela Netflix, por se tratarem de redes sociais, elas não estão isentas da polarização. Ao mesmo tempo que ela pode ser utilizada como uma ferramenta de complementação do conhecimento, ainda é possível que a desinformação e o senso comum prevaleçam diante das telas. Isso se dá por um simples fator que também é abordado no documentário: as redes te mostram aquilo que você quer ver. Fazem isso porque necessitam da sua constante atenção para lucrarem. Isso gera a procrastinação nos indivíduos, que pode desencadear uma série de fatores como a culpa e a angústia. De forma acumulada, isso pode gerar ansiedade e depressão. 


   Este uso desenfreado das redes pode fazer também com que percamos a noção da realidade, confundindo os valores das redes com os da vida real. Por estar inerte por muito tempo, o indivíduo pode atribuir valores a sua vida que priorizam o seu sucesso apenas no universo virtual - como atingir o padrão de beleza do momento, ou conseguir milhões de curtidas em uma foto. Infelizmente, não são todos que conseguem alcançar estes objetivos, lhes gerando um sentimento de impotência e fracasso, que por sua vez gera uma intensa tristeza que, ao longo prazo, pode desencadear crises de ansiedade, depressão e, em alguns casos, suicídio. 


   Grande parte destes fatores apresentados estão ligados a geração mais jovem. Isso porque desde muito cedo estão ligadas a estas tecnologias e como não possuem uma noção adequada para realizar pesquisas aprofundadas e entender profundamente conceitos complexos, acabam por fundarem seus valores principais de acordo com o que está sendo ditado nas redes. Existe ainda o fator de sobrecarga de informação, que se dá pelo ponto em que a criança ou jovem não consegue processar tudo aquilo que é recebido. Desde o último ano, diversas tragédias tem acontecido no mundo todo. De certo que a superexposição destes acontecimentos a uma criança que ainda não possuí discernimento para processá-las pode causar nela uma gravíssima ansiedade.


   A melhor maneira de combater esta super exposição é controlar o nosso uso em redes sociais e tentar racionalizar ao máximo tudo aquilo que consideramos valoroso em nossas vidas. Por mais que uma informação seja verdadeira e relate os acontecimentos do mundo, não faz bem para nosso cérebro ficar exposto a muitos destes dados ruins. Por isso, utilizar as redes por um tempo moderado e com restrição a muitos conteúdos de cunho negativo pode ajudar a evitar uma possível crise de ansiedade ou algo ainda pior.

 

Avanço no Conhecimento Psicológico


   Assim como muitas outras doenças, sejam elas psíquicas ou físicas, a depressão foi muito estudada ao longo dos anos desde sua descoberta e, portanto, mudança a respeito de sua origem, sintomas e tratamentos foram mudando conforme o conhecimento a seu respeito aumentava. Devido a isso, uma possível explicação também utilizada para justificar o aumento de casos é nada mais que a melhor capacitação dos profissionais da psicologia bem como o aumento de indivíduos que decidiram seguir essa profissão, facilitando assim o reconhecimento da doença. Como pontua a psicóloga Aline Costa em seu texto publicado pela CLIA "a depressão não seria “o mal do século”, ela seria o “mal de todos os tempos”, apenas, atualmente estaria sendo melhor diagnosticada". 

Pandemia


   De acordo com dados publicados pela OMS, o Brasil, antes da pandemia, já era considerado o país mais ansioso do mundo. Esta situação se agravou ainda mais durante o período de pandemia, tendo um aumento de 90% dos casos, segundo a Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Era de se esperar que aqui no Brasil, bem como no mundo todo, os fatores causados pela pandemia agravassem essa situação, mas, aqui, isso se alastrou mais do que o esperado.


   Aqui, podemos realizar uma divisão de dois públicos: aqueles que, devido ao isolamento, tiveram um agravamento nas condições financeiras e, portanto, na qualidade de vida e aqueles que, durante este período, não tinham outra atividade a não ser as redes sociais. De certo que no segundo caso, é mais fácil de se encontrar uma saída para evitar um possível quadro de depressão, já a primeira não é tão simples assim. Esta falta de condições pode acarretar em uma severa perda de experança, além dos fatores físicos, como perda de peso e fraqueza. Este grupo de pessoas infelizmente não possuem condições nenhuma de realizar uma consulta psicológica, muitas vezes impossibiltando-os receberem o suporte necessário para continuar com suas vidas. Mas é claro, apenas o suporte psicológico não irá auxiliar neste caso. É necessário que o governo e a população dêem o apoio necessário para que essas pessoas possam manter o seu direito a vida, para que não percam todas as esperanças. 

 

Considerações finais


   Como vimos ao longo de todas as partes deste site, a depressão é uma doença seríssima e que vem sendo negligenciada quanto ao seu potencial desde sua descoberta. Cabe a nós, enquanto detentores destes conhecimentos, divulgá-los e utiliza-los como a principal arma para tirar deste mundo a consepção errônea de que a depressão não passa de uma banalidade. Cabe a nós lutarmos conta esse mal que, por ignorância, foi classificado por muitos como inexistente ou banal. Estamos em um momento decisivo, ignorar isso é abandonar completamente o futuro brilhante que poderíamos ter. Precisamos lutar contra esse mal, antes que seja tarde demais.

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